23 fevereiro 2006

Multiplex 3 (take 3)

— Não olhe agora, Groucho, deixe-a sentar-se.
(pausa; continuam a tomar café)
— Olhe agora, Groucho, mas devagar, seja discreto que isto é uma terra pequena.
(Groucho olha, depois continua a tomar café)
— Não diz nada, Groucho?
— Digo que é um animal humano bonito. E dito isto, não percebo de todo a sua excitação.
— Mas não lhe parece uma presença arrebatadora? Não acha que em determinadas circunstâncias um homem pode abandonar tudo para a seguir? E note que eu penso que o contrário também pode acontecer, de uma mulher para um homem, ou entre homens ou entre...
(interrompendo) Percebo perfeitamente o seu ponto.
(pausa, Groucho toma o último gole de café)
.
— Mas que raio, Groucho, estou a tentar voltar à conversa de...
(interrompendo) Percebo perfeitamente o seu ponto, repito. É análogo daquela tese que diz que a beleza é uma armadilha da natureza para pôr um homem em pé.
— Mas que raio de metáfora machista é...
(interrompendo) E note que, tal como o Sr. Mourão, penso igualmente que a metáfora se pode aplicar a qualquer uma das combinações que enunciou. É um modo algo infeliz de dizer, mas apenas isso.
— E então em que ficamos, Groucho?
— Ficamos na mesma, senhor. Melhor, tenho de concluir em termos mais universais: Decididamente, os humanos não percebem nada.
— Arre, Groucho, você hoje está intratável.