18 fevereiro 2006

Passeio quase nocturno: o castelo (3)



— Mas que se passa com esta cidade? Há obras por todo o lado, santo deus.
— É o progresso, Groucho, e desta vez vem programado ou tem nome de programa.
— Ah, essa coisa grega...
— Cuidado aí com essas correntes, chegue-se mais para cá.
— Arre, sente-se bem que chegamos à beira-rio, que humidade!
— Aperte bem o cachecol, veja lá. Apesar do diferendo, acho que ninguém no clube me perdoaria se viesse a adoecer nestas férias.
(esperançoso) Acha mesmo?
— Acho, Groucho, acho mesmo. Mas voltando à história. Temos então que a câmara cá da terra tinha uma maioria confortável e parecia lançada para um novo mandato. E tanto assim era, que pela oposição se apresentou desportivamente um bom candidato perdedor.
— Estou a ver... Pessoa séria, não conhecida na política, que não quer mesmo ganhar, mas que faz o frete ao partido de se queimar naquelas eleições.
— Nem mais. Acontece que a maioria, quase a terminar o mandato, se lembra de propor um grande desígnio para o futuro. Faz contas e mais contas e chega à seguinte conclusão: se em todos os documentos oficiais da câmara, a designação da cidade, em vez de ser Viana do Castelo, passasse a um singelo Viana, poupar-se-iam muitos milhares de contos.
— Sério?!
— Foi o que disseram, e se calhar as contas até estavam bem feitas, sei lá. Além do mais, diziam eles, tratava-se simplesmente de tornar oficial a designação corrente cá do burgo.
— Hum... E depois, que aconteceu?
— A oposição tomou como lema da sua campanha “Por uma Viana com Castelo”, foi o que aconteceu.
— E ganharam?
— Oh-Oh, ganharam sim senhor. Por meia dúzia de votos, contadinhos até às quinhentas da noite, mas ganharam.
— Hum... (pausa longa) De facto... (pausa) Olhe cá uma curiosidade: quando disse Oh-Oh a sua entoação mudou...
— É uma expressão daqui, Groucho, estava a imitar as gentes de Viana.