16 fevereiro 2006

Passeio quase nocturno: o castelo (1)




— Está bem agasalhado, Groucho? Olhe que isto já desceu aos cinco graus...
— Sente-se, lá isso é verdade. Andemos, andemos.
— Vamos ali contornar o castelo e depois continuamos pela beira-rio.
— Não parece grande, o castelo.
— E não é, além de não ter grande interesse. Mas há uma história curiosa que o envolve, e que é o reverso dessa verdade insofismável de que o mapa não é o território ou de que a palavra pedra não fere.
— O reverso de uma verdade insofismável, senhor? Como assim?
— Então, Groucho, o contrário, o oposto...
— Eu sei o que quer dizer reverso! Agora reverso de uma verdade insofismável...
— Visto da perspectiva completamente oposta, onde mora uma outra verdade que também se pretende insofismável.
— Mas podem ser ambas, ou afinal nenhuma delas é porque existe a outra?
— Acho que depende da história que você quiser contar, Groucho. Era o que eu ia fazer, contar-lhe uma história, uma pequena história...
— As minhas desculpas, senhor. Mas também me parece que começou logo pela conclusão, não pela história em si mesma.
— Mas já vê, Groucho, quando se começa pela conclusão e se conta depois a história, isso quer dizer desde logo que a conclusão não será assim tão conclusiva...
— Põe o desejo de conclusão à frente porque não sabe bem onde a história vai dar, é isso?
— Nem mais. O desejo de conclusão é só para ter por onde começar, que a gente bem sabe como se começa, agora como acabará...
— Bom, parece-me que o senhor é tão digressivo como os outros cavalheiros do clube. Volte lá à história, agora fiquei curioso.
— Está a ver, Groucho, as vantagens da digressão?
— Ou os incovenientes de ir aqui consigo...
— Pois, mas cuidado aí, isto anda tudo em obras, talvez seja melhor mudarmos de passeio.

(continua)