11 setembro 2005

omnipresente, o zumbido

omnipresente, o zumbido da refrigeração do disco rígido fazia de baixo contínuo, sobre o qual as notas do teclado, palavra a palavra, e frase a frase, delimitavam compassos, alternando longos momentos de quietude com irrupções continuadas de percussão, sublinhadas, de vez em quando, pelos estalidos da persiana e da porta provocados pelo vento, que entrava pela janela semi-aberta, por onde subiam também vozes de cães, motores e crianças, que o gemido da caixa parecia submergir com o seu canto eléctrico, companheiro inseparável do bombardeamento de electrões com que o tubo de raios catódicos lhe colonizava o nervo óptico, negando-lhe o entendimento da notação que a máquina lhe arrancava à mão, o tendão da linguagem paralisado pela escuta.