06 setembro 2005

Ordem de trabalhos: as regras, 1 (allegro cappriccioso, con spirito)


















[Sobe o pano]
ABB – Os senhores não ouviram umas vozes quando vínhamos a chegar?
FMO – Umas vozes? Eu não ouvi nada.
OMS – Nem era preciso dizer…
CA – Eu ouvi qualquer coisa, mas não posso garantir que fossem vozes. Podia ser uma corrente de ar.
PS – Uma corrente de ar?
MP – Acho que o Sr. Baptista tem razão. Eu também ouvi umas vozes.
LQ – Ouvir vozes? Isso é o mais natural. Eu estou sempre a ouvi-las.
GR – E já foi ao médico?
LQ – O Sr. acha que é um caso médico, é?
GR – Não sei. Mas podia ser um sintoma…
LQ – Um sintoma? Um sintoma de quê, vamos lá a saber?
FMO – Pendurar-se no pano... ouvir vozes…
LQ – É precisamente esse o problema dos leitores.
GR – Dos leitores?
CA – Sim, ler no mundo os seus sistemas.
ABB – Exactamente. Alegorizarem as leituras.
CA – Interpretarem os signos como sintomas.
FMO – Não estou a perceber.
OMS – Nem era preciso dizer…
GR – O Sr. Serra tinha qualquer coisa a dizer. Aliás, tinha uma ideia.
CA – Pouco sarcasmo e mais dedicação, Sr. Rubim.
PS – Bem, se vamos fazer um clube de leitura, convinha haver umas regras.
LQ – Umas regras?
OMS – Sim, também digo! Regras para quê?
PS – Bem, são mais uns princípios orientadores, umas directrizes, umas guidelines
ABB – Acho bem. Qualquer clube tem um mínimo de regras, ainda que não estejam escritas. Ainda que sejam apenas consuetudinárias.
LQ – Consuetudinárias, Sr. Baptista!? Mais respeito!
CA – E quais são as suas regras?
FMO – Só espero que não venha para aí com os mandamentos do Pennac!
LQ – Os mandamentos do Pennac?
MP – Então não eram do Moisés?
OMS – Este é um caso perdido, meu Deus!