18 dezembro 2005

onírico, 1



- Groucho, é você que está aí?
- …
- Responda, caramba!
- Sim, sou eu, sim senhor.
- Puxa! Que susto me pregou! O que faz aí às escuras, com as persianas corridas?
- O que queria o senhor que eu fizesse, senão fechar as cortinas e deixar-me estar?
- Até parece que morreu alguém!
- Ai se parece! Tantos dias de agitação e ironia, e agora nada. Vem um dia, vem outro, e nada. Semanas inteiras, e nada. Nada de nada.
- Que melancolia, meu Deus!
- Ninguém que me dirija a palavra! Nenhum recado na parede! Nenhuma mensagem! Ao menos uma mosca que zumbisse!
- Uma mosca que zumbisse?
- Um vento que soprasse!
- Um vento que soprasse?
- Um eco dos meus passos!
- Um eco dos meus passos?
- Dos meus, dos meus, já se vê. Pois se o senhor não põe cá os pés…
- Sabia lá!
- Sabia lá o quê?
- Sabia lá que o senhor ainda andava por aqui.