18 dezembro 2005

diálogo offshore, 2
























- Algumas transacções seriam feitas com Estados africanos e asiáticos, por vezes através de uma entidade jurídica criada especialmente para o efeito por motivos fiscais. A origem do dinheiro pouco interessaria…
- Dinheiro sujo, imagino…
- Sujo não, Groucho, aí é que você se engana. Limpo! Mais limpo nem podia ser.
- Lá está você a dramatizar!
- Não raro fazia-se um pagamento, por serviços de consultadoria ou similares, a uma terceira parte, que aparentemente nada tinha a ver com a transacção.
- Corrupção, imagino…
- Imagine, imagine, que tudo isto requer muita imaginação. Dinheiro em fuga! Capital no estado gasoso!
- Gasoso?
- Volátil mesmo! Mas deixe-me continuar.
- Vejo que andou a ler... O senhor fazia melhor em descansar…
- Veja: o número de paraísos offshore subiu de 25, no início da década de 70, para 72, nos finais de 2004. Cerca de 11,5 biliões de dólares de activos estão actualmente em contas offshore isentas de impostos ou sujeitas à taxa mínima.
- Lá vêm os números. Não vejo onde quer chegar.
- Se aos dividendos desses valores fosse aplicado um imposto de 30%, seria gerado um rendimento de 255 mil milhões de dólares para o Projecto Millenium das Nações Unidas, cujo objectivo é duplicar a ajuda aos países pobres até 2010.
- Boa parte do dinheiro que flui para zonas offshore vem agora dos países de Leste. Estima-se que o dinheiro com origem na Rússia, por exemplo, tenha entrado nos bancos ocidentais ao ritmo de 20 a 30 mil milhões de dólares por ano desde 1989. Segundo o Instituto para a Informação e Democratização, em Moscovo, o fluxo total para o exterior de fundos ilícitos, ou com origem na corrupção, atingira em 2002 o valor estimado de 400 mil milhões de dólares, dos quais 300 mil milhões em zonas offshore.
- Pare lá um bocado com a prelecção, e deixe-me ir ao chá. É servido?