18 dezembro 2005

diálogo offshore, 4
















- Não me diga que me deixa a falar sozinho?
- Mas não era isso que estava a fazer?
- Claro que não. Estava apenas a ilustrar.
- A ilustrar?
- Sim, a ilustrar os fluxos de capital.
- Quais fluxos?
- Olhe, por exemplo: os 78 mil milhões de dólares de orçamento da ajuda global anual são insignificantes quando comparados com o fluxo de transferências na direcção oposta. Ninguém sabe quanto dinheiro dos países pobres foi transferido para o Ocidente desde os anos 70. Talvez uns 5 biliões de dólares. Agora é a sua vez.
- Privados de investimento doméstico e de receitas de impostos para financiar os serviços públicos, muitos governos tornaram-se dependentes do investimento externo directo e de uma pesada dívida externa. Que tal?
- Vejo que começa a perceber a lógica disto: o mercado financeiro global encoraja o movimento do dinheiro sujo, mas nem o Banco Mundial, nem o Fundo Monetário Internacional tentaram quantificar a fuga de capitais e a evasão fiscal. Só a lavagem do dinheiro da droga e do terrorismo é que parece interessar.
- Mais de 50 por cento da riqueza em dinheiro e valores dos indivíduos mais ricos da América Latina está em instituições offshore. 30% do Produto Interno Bruto da África sub-sahariana na segunda metade da década de 90 foi para zonas offshore. Percentagem que é ainda maior no Norte de África e no Médio Oriente.
- Os padrões no comércio e no investimento internacionais revelam, pelo menos desde os tempos coloniais, que estes se organizaram de acordo com elaborados processos de evasão fiscal. Cerca de metade do comércio mundial passa por paraísos fiscais.
- Calma, que a próxima frase é minha: as companhias multinacionais que se valem de subsidiárias em zonas offshore conseguem enormes vantagens financeiras relativamente a companhias nacionais. Uma distorção do mercado que favorece as grandes empresas.