18 dezembro 2005

onírico, 3



- Nada?
- Nada. Aliás, era eu quem apanhava um susto.
- Um susto?
- Sim, chegava aqui e estava tudo às escuras. De repente, um estalido no soalho, e dava-me conta de uma silhueta ao fundo da sala, no cadeirão.
- E quem era?
- Era ela.
- Ela?
- A criatura das minhas falas.
- No escuro da sala…
- No cadeirão.
- E o que lhe dizia ela?
- Primeiro dizia: sim, sou eu, sim senhor.
- E depois?
- Depois conversava comigo. Fazia-me sentir que me esquecera dela.
- E esquecera?
- Talvez tivesse esquecido, mas eu não estava preparado.
- Preparado?
- Sim, dizia-lhe coisas sem nexo. Suspendia as falas a meio…