23 setembro 2005

O prometido é devido, 4



(espantada) – Mas o que é isto?
(de pé, no meio da sala, olha em redor) — Desculpe, mas quem dizia isto era eu!
(intrigada) – Isto??…
(entra, e senta-se) – E a senhora também me estava subordinada.
(intrigada) – Desculpe, mas isto é uma cooperativa.
(decididamente) – Não é um deíctico!
(entra, vindo da esquerda) — Tem a certeza?
(intrigada) – Pois tenho! É uma cooperativa e todas temos direito de voto.
(de pé, no meio da sala, olha em redor) – Pois esse é que é problema!
(corrigindo) – Qual problema?
(entra, vindo da esquerda) — Está bom de ver qual é o problema: a cooperativa alargou-se de forma sub-reptícia.
(curiosa) – Sub-reptícia?
(entra, olha para os outros) — Pois foi: éramos oito e veja o que se passa agora.
(explicativo) – Desculpe, mas está nos estatutos.
(de pé, no meio da sala, olha em redor) — Mas que estatutos?
(surpreendida) – Nos estatutos da associação.
(entra, com ar apressado) — Não posso crer: isto é uma tomada do poder!
(ríspida) – Nada disso. Foi um alargamento democrático.
(entra, vindo da esquerda) – Democrático? Democrático isto?
(tímida) – Sim, se umas têm direito, as outras também.
(entra, e senta-se discretamente) – Não estava à espera disto.
(desdenhosa) – Mas disto o quê?
(entra, com ar enfastiado) — Ora foda-se!
(espantada) – A senhora também é sempre a mesma coisa.
(entra, olha para os outros) — Valha-nos isso!
(secamente) – Isso o quê?
(entra, com ar enfastiado) – A estabilização do referente.
(conciliadora) – Seja lá o que for, agora não interessa…
(de pé, no meio da sala, olha em redor) – Que incoerência, meu Deus!
(aparte, falando consigo mesmo) – Quanto tempo há espera desde momento…
(entra, e senta-se discretamente) – Há espera?!
(espantada) – Hé da emoção… não é todos os dias que o aparte entra na conversa.
(entra, olha para os outros) – O certo é que ficámos em minoria. Passámos de oito para vinte e três, e isso, por muito que vos custe, é que não se compreende.
(sobranceira) – Não há nada que diga o contrário, ou há?
(fica à porta, do lado direito, lança um olhar ao grupo todo)– A didascália marou! Que estardalhaço!

[continua]