16 novembro 2005

Soneto 29

Quando, perante os homens e a Fortuna,
Chorar o mal da minha condição,
Num pranto alto que o céu surdo importuna
Com meu destino e minha maldição,
E me quiser mais cheio de esperança,
Como este trajar e amigos possuir,
Daquele a arte, doutro a abastança,
Mais tenho o que menos posso fruir;
No desprezo que a mim voto, todavia,
Penso no vosso, e neste estado meu,
Como na alvorada ergue a cotovia
Da terra triste o canto em hino ao céu.
Pois é tão rico o vosso amor lembrado
Que nem p’lo dos reis troco o meu estado.

William Shakespeare (tradução MP)