12 novembro 2005

Intermitências da vida, 1

















- Groucho, bons olhos o vejam!
- Bem posso dizer o mesmo! Por onde tem andado?
- Sei lá. É uma aflição estes dias. E estas noites. Uma correria. Falta-me o ar.
- Não me diga…
- Mal me levanto e já estou a fechar os olhos outra vez.
- Isso não pode ser assim, Sr. Portela. Está com certeza a dramatizar.
- Não estou, não. E sabe o que é pior?
- O quê?
- Há pedaços inteiros que desaparecem.
- Pedaços inteiros que desaparecem?
- Sim, pedaços inteiros que não deixam rasto. Por exemplo, vou a guiar e reparo em mim a conduzir.
- E então?
- Não sei como cheguei até ali. É como se se tivessem desvanecido quilómetros e quilómetros, como se tivesse atravessado um buraco no tempo e no espaço. Há uma falha nesse percurso no chão do mundo. Nesse contacto.
- São intermitências da vida…
- Da vida ou da morte?
- Não sei, não sei…