13 novembro 2005

Alface, 5





















- Como vê, a lista é extensa.
- Alface para todos os gostos…
- Deixe que lhe dê uma ideia do labor alfácico: «Para baratinar o minguado decidi também cerrar taipais mantendo uma frincha alerta só para apreciar o trombil do incontinente posto perante a ferrada plateia.» (Cá Vai Lisboa, p. 43) Topa a sarcástica facúndia, Groucho?
- Não topo nada, se quer que lhe diga. Repolhuda, mais do que alfacenta.
- Então repare bem nesta amostra: «Com desabrida berraria reabriu Delfim as pálpebras no momento em que uma falange descarnada estava prestes a vazar-lhe o globo. Num ápice deu mecha às solas. Nem tarde nem cedo. Um sopapo no longevo acusador e ala, ele aí vai com uma perna às costas.» (Cá Vai Lisboa, p. 93)
- Qual o motivo do entusiasmo?
- «Olhou estoirado em volta. A pouca e pálida luz da manhã esgueirava-se por clarabóia anoréxica.» (Cá Vai Lisboa, p. 115)
- Clarabóia anoréxica?
- «Pilar Boaventura e Delfim Sardinha nem deram por nada, de engalfinhados que estavam no necrotério, ao invés do doutor Justino que escamado atirou os aparelhos ao tecto quando os “arenques” por autopsiar começaram com a tremedeira a cair despedidos das prateleiras.» (Cá Vai Lisboa, p. 162)
- Poupe-me, Sr. Portela!
- «O rabo cetáceo tornava-se imensa beterraba roxa e a excitação da zurzida em breve se liquefaz num orgasmo-monção que encharcou a colcha azul-bebé.» (Cá Vai Lisboa, p. 173)
- E então? Frases respigam-se em qualquer lado.
- Não são só as frases que amalucam, Groucho. O enredo também é paródia satírica do mais hilariante. Veja lá: um despique entre a Academia Musical 25 do Corrente e o clube gay Rosa Tatuada para representarem Alfama nas marchas de Lisboa. Política local, filme policial, batalhas épicas, priapismo, ninfismo. Uma caricatura pegada.
- Uma salada de alface…
- Do Alface, Groucho, do Alface.
- Ou isso…