que surja outra personagem no meio da ventania
que surja outra personagem no meio da ventania. e uma outra página. que não se saiba ainda quem lê. retrospectivemos o seu olhar, subsumindo-o, ao escutar o silvo do vento na frincha da porta.
frag. 43: necrofilia
Se aquilo que define o desejo é a sua mobilidade, isto é, o projectar-se sempre em novos objectos, seria impossível fixar esse movimento, prendê-lo ou ligá-lo a um objecto em particular. Seria como pretender ligar um significante e um significado, ou um significante e um referente, ou um significado e um referente: tais ligações são temporárias, contextuais, convencionais, já que o que define a linguagem é esse intervalo entre significante e significado, entre o som e o mundo, que gera o movimento da fala e de todos os laços que se constroem através das palavras e dos gestos. Só novos desejos pelo mesmo objecto explicam a aparente fixação do desejo num objecto em particular. Por outro lado, o movimento natural do desejo em busca de novos objectos repete o padrão que o levou a fixar-se num determinado objecto. Parar é contradizer a sua essência, que é o movimento, mas procurar novos objectos é repetir o impulso inicial, e portanto procurar o que já se encontrou. Ou seja, num certo sentido, realizar o desejo é contradizê-lo, já que o objecto lhe é quase indiferente. Foi uma alucinação que o desejo conjurou apenas para continuar a desejar. Almodovar encena bem esse dilema no Habla com Ella: uma relação que não seja necrofílica com o objecto implica uma deflação do desejo capaz de se ligar ao objecto fora das figurações que o sujeito constrói do objecto. O problema está em que a fantasia é o motor do desejo, que sobrepõe as suas representações e afectos à realidade material e concreta do objecto. Por isso, a energia que torna um objecto significativo está sempre em movimento, já que esse movimento é independente do elo que por instantes se estabeleceu entre desejo e objecto. O texto permanece em estado de coma.
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