David acabara de entrar na sala
David acabara de entrar na sala e colocara o quadro sobre o sofá, diante de Juca. que lhe deu uma vista de olhos, quase sem se deter, enchendo o copo ao mesmo tempo. era uma decepção. talvez pelo excesso de expectativa. rectângulo preto, rectângulo vermelho, tela branca. os limões a rolar no passeio. não conseguia encontrar na pura exterioridade daquela obra a ressonância simbólica que estava habituado a consumir em casa dos seus clientes. além disso, 80 por 80 cm pareciam-lhe dimensões irrisórias. não duvidava, todavia, de que continuaria a valorizar-se a uma taxa anual superior aos melhores papéis. «a really valuable asset, Djuca» - comentou David Lot. «and a great painting too» - acrescentou Keith, que tinha acabado de escrever um paper para o seminário de pintura modernista de John Russell. Juca mexeu as pedras de gelo. «oh yes, i’m sure this was a good move. somehow you have to stop the money from vanishing.» uma alusão que David e Keith apenas puderam adivinhar. David estava vagamente ao corrente de um golpe financeiro de contornos imprecisos, que trouxera Juca ao seu encontro. uma comissão de cinco por cento numa transacção daquelas era informação bastante. «A certain Mr Gaspah wants to speak to you» - Keith a passar-lhe o telefone, já lá iam umas semanas.
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