O chapéu do senhor Malinowski
O herói fundador de uma disciplina pretensamente científica seria afinal, e tão-só, um magnífico comediante. Refiro-me ao inefável Malinowski, o Conrad da antropologia. Em 1930, Malinowski escrevia a Russell nos seguintes termos:
"Caro Russell
Na ocasião da minha visita à sua Escola, deixei o meu único chapéu castanho apresentável na sua sala de visitas. Interrogo-me se desde então terá tido o privilégio de cobrir os únicos miolos em Inglaterra que eu, sem relutância, julgo melhores que os meus; ou será que foi utilizado em algumas experiências juvenis de física, tecnologia, arte dramática, ou simbolismo pré-histórico; ou será que naturalmente desapareceu da sala.
Se nenhum destes eventos, ou deveríamos chamar-lhes antes hipóteses, se verificam ou tiveram lugar, poderá ter a amabilidade de mo trazer embrulhado numa folha de papel pardo ou de outro modo resguardado para Londres e avisar-me por postal de modo a poder reclamá-lo?
Lamento que a minha distracção, que é característica de uma alta inteligência, o tenha exposto a toda a inconveniência incidental ao acontecimento.
Espero revê-lo muito em breve. Sinceramente, B. Malinowski."
Como diria o mestre Groucho, não se desvie nunca do acidente. Pode ser que, equivocamente, ainda venha a constituir um credo com um gordo contingente de crédulos: sérios e aprumados, como convém. Aproveite, pois, enquanto se não vê o impostor de intenções escusas que você é!
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