saltaram os três para a água
saltaram os três para a água. João, Tiago e Sara. uma última vez, antes que o professor os fizesse mergulhar passando pelo arco, exercício com que costumava acabar a aula. era um chape chape contínuo, com as vogais a surfarem em todas as direcções. «aaaaahhhh! eeeeeehhhhhhhh! oh! oah oaehhh! eiiiih! oooaaahhhiii!», «espeeeera, João, espeeeera», «aaaaahhhh! eeeeeeiiiiiiaaaahhhhhhhh! oh! oah oaehhh! eiiiih! oooaaahhhiii!» «Tiago, tens de fazer assim. olha. os braços bem esticados. só mais uma vez.» o Tiago batia os pés energicamente e avançava, com os dois braços agarrados à prancha e a cabeça para baixo, para a última volta à piscina. só quem estivesse do lado de dentro das portas de vidro conseguia ouvir a algazarra das vinte e três crianças que, àquela hora, acabavam a aula das 18 e 15. do lado de fora dos painéis de vidro que cercavam o tanque, era mais forte o ruído abafado da música do ginásio, martelando no piso de cima. os sons da água agitada e das vozes que se seguiam aos primeiros pulos e braçadas, e a reverberação de tudo isto nas paredes e no tecto, eram a singular e inesgotável orquestração da alegria do mundo. ar e água misturavam-se fortíssimos e inconfundíveis, oscilação aleatória golfando também na voz e na respiração, antes que o ritmo disciplinado dos percursos e dos exercícios sossegasse o frenesim aquático. o cheiro a cloro parecia-lhe hoje menos forte do que o habitual. o branco das lâmpadas fazia sobressair o azul do revestimento do tanque quase como se estivesse lá fora ao ar livre. mães e pais alinhavam-se no corredor de acesso aos balneários. alguns, de roupão na mão, aguardavam para levar os filhos ao duche. aí vem ele, sempre a correr. hoje era dia de ter vindo com o pai.
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