08 março 2006

Fogo-de-artifício 2

LM – Queimei a língua!
MP – Mas eu avisei que o chá estava a escaldar.
OMS – Sr. Portela, que espécie de deixa é essa?
MP – É uma deixa a andar!
CA – Então, senhores!, o Sr. Mourão queimou a língua!
GR – Quem anda à chuva molha-se!
ABB – Quem anda à chuva molha-se, Sr. Rubim? Não misture as metáforas.
LQ – Não é metáfora nenhuma. Olhem para a cara dele!
PS – Está aflito, coitado!
FMO – Queimou as papilas todas!
OMS – Sr. Portela, por amor de Deus, queimou as papilas todas? Queimou as papilas todas?
PS – O que tem a fala do homem?
FMO – Mas foi a fala ou foi a língua?
OMS – Tudo em prol da literatura dramática!
GR – Beckett e Ibsen. Sobretudo Ibsen!
CA – Faz bem em pôr água na fervura!
ABB – Pôr água na fervura, Clara? Não queime as metáforas. Guarde-as para melhor ocasião. [Puxa do caderninho de retórica e toma notas afanosas. Hipálage, aponta, com a ponta da língua de fora e o nariz em cima da folha.]
LQ – Não é metáfora nenhuma. Olhem para a cara dele!
PS – Está aflito, coitado!
FMO – Queimou as pupilas todas!
PS – Os olhos também?
MP – Os olhos não, porra! Via-se bem que era uma gralha, Sr. Oliveira!
FMO – Acha que fiz de propósito?
OMS – Tudo em prol da literatura dramática!