13 fevereiro 2006

Casa de férias 1

— E é isto, Groucho. Acha que fica bem instalado?
— Mais que bem, senhor...
— Parece-me um pouco desanimado... Não é o que esperava?
— Bem, devo confessar que quando me falou de casa com vista de mar imaginei logo uma vivenda abrindo directamente para a areia e muito azul à volta...
— Mas eu depois avisei-o, Groucho, lamento se...
— Não, não, está muito bem assim, e não me enganou de todo, é exactamente como tinha dito.
— Mas...
— É só que é demasiado real, sei lá...
— Demasiado real?!..
— Quando me disse um sótão num bairro social, com vista sobre a parte velha, o porto, guindastes...
— E o mar, Groucho, o mar! Já reparou que o mar ocupa mais de metade da janela? Você senta-se aqui na mesa a ler ou a escrever ou só a pensar, e o mar é toda esta metade da janela. Uma casa assim é um achado, Groucho!
— E eu só tenho que agradecer. Mas não pensei que o bairro social fosse assim tão social, nem os guindastes tão guindastes...
— É só o primeiro impacto, Groucho. E depois vai ver que a vida real tem o seu encanto. Em todo o caso, terá sempre o mar.
— Também são apenas férias, não é nada de permanente...
— Era o que eu lhe dizia, Groucho: o mar são as férias da vida, nem há outra razão para ele ter de existir assim tão largamente.