14 fevereiro 2006

Casa de férias 2




— Já arranjou um cão, Groucho?!..
— Parece que é do prédio, vai andando por aí. Não o conhecia?
— Eu não, mas também faz tempo que não vinha por cá. Você até me fez um favor ao aceitar o convite, uma casa sem uso vai-se degradando.
— Por falar nisso, há novas do clube?..
— Cada vez mais deserto, Groucho... Aquela história de você ter raptado a menina Clara era treta, a verdade é que uma a um vão migrando, e nem se percebe bem porquê. Acho que até já puseram seriamente a hipótese de reclamar a herança do clube, veja lá.
— Herança? O quê, a mobília e os comes e bebes?
— Eu sei lá, Groucho. Mas acho que aquilo já está bastante despido, se calhar já levaram tudo, com ou sem herança. O Sr. Portela foi lá e só encontrou paredes e ecos.
— Vai ver que é o próximo a desertar.
— Também me parece. Olhe que o cão já bebeu a água toda.
(olham ambos para o cão; o cão deita-se sossegadamente)
— E o cão tem nome, Groucho?
— Já perguntei no prédio, mas ninguém se rala com isso, pelos vistos.
— Mas como é que você o chama?
— Ora, digo anda cá. E outras vezes ele já está aí, é ele que me chama a mim.
— Estou a ver.
— É bonito um cão sem nome, sabe? Tenho para mim que é um cão com um problema a menos.
— Como assim, Groucho?
— Oh, não interessa. O importante agora é que tenho de ir ali ao supermercado ver se lhe arranjo alguma comida. Você até que tinha alguma razão acerca dos encantos da vida real.
— Tinha?
— É, quanto mais metablogue de um lado, mais empiria do outro.
— Groucho, você está mesmo a precisar de férias, homem!..
— Por isso mesmo. (dirigindo-se ao cão) Anda, vamos às compras.