Um mergulho na merda
- O método será o fieldwork com observação participante, disse-nos o Senhor Malinowski.
- Mas isso é o fétiche da experiência, não?
- Sim, meu caro Groucho.
- Esses tipos da antropologia são metodologicamente muito primários.
- Creio que tem meia razão apenas. Recorde-se que o Malinowski era leitor de Conrad. Quando os nativos, esses "pretos", como ele os designa numa célebre passagem dos diários, quando os nativos, dizia, se tornavam insuportáveis, o homem fechava-se na sua tenda de Omarakana a ler Conrad. E queria ser o Conrad da antropologia, como nos diz o James Clifford. Polaco a escrever em inglês, e tudo!
- Você perde-se em detalhes. Por que razão se trata afinal de uma meia razão?
- Ah, é verdade, desculpe o registo digressivo! O Conrad era um grande pessimista, como sabe, e sobre a experiência ele escreveu em A linha de sombra: "Toda a gente tem uma excelente opinião acerca dos benefícios da experiência. Mas de facto, a experiência significa sempre algo de desagradável, contrariando sempre a sedução e a candura das ilusões." Ou seja, ironicamente o Malinowski devia saber muito bem o que representava a observação participante...
- Um mergulho na merda.
- Sim. Depois teremos sempre prerrogativas especiais sobre o conhecimento.
- E a seguir? Contemplamos o mundo melancolicamente?
- Parece-me bem que sim.
- Ó Quintais, lembre-se da máxima judaica: "O homem chora e Deus ri".
- Obrigado, divino Groucho.
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