sentado na ante-câmara
sentado na ante-câmara da sala de reuniões, Braúlio Boavida passava os olhos pela Gazeta Financeira, enquanto aguardava o início dos trabalhos da comissão de inquérito. trazia consigo recortes de várias edições dos últimos meses, que usava como memorando de um processo cujos contornos precisos ele próprio estava ainda a tentar compreender. quem lesse o parágrafo que antecipava o relatório de contas dificilmente poderia imaginar a situação crítica em que o banco se encontrava naquele momento. releu um dos recortes mais antigos, assinado por Raimundo Nariz. sabia-o praticamente de cor: Os resultados consolidados do grupo Boavida cresceram 35% acima das expectativas, o que permitiu ao banco lucrar 5 milhões de euros. Não lhe será, por isso, difícil exceder a meta dos 20 milhões de euros que os analistas avançam para este exercício. A rendibilidade dos capitais próprios evoluiu de 14 para 23 por cento. O crescimento de 1,2 milhões de euros da margem financeira foi suportado, nomeadamente, pela expansão da carteira de crédito hipotecário, pela desintermediação de recursos com “spreads” muito reduzidos e pelo crescimento de 70 por cento das comissões — a intermediação e custódia de títulos cresceu 1,5 milhões, a gestão de fundos de investimento 1,2 milhões e os cartões e transferências de valores mais 0,9 milhões. um naco de prosa que ganhara entretanto um sabor amargo. o seu depoimento já estava preparado.
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