08 julho 2005

Híbridos

Assisti certa vez a uma discussão entre dois botânicos sobre uma Coisa Danada que brotara impiamente do pátio duma universidade. Um afirmava que a Coisa Danada era uma árvore, e o outro dizia que era um arbusto. Cada um dos dois encontrava-se munido de bons argumentos académicos, e quando os deixei a discussão ainda continuava. § O mundo está permanentemente a fazer brotar Coisas Danadas - coisas que não são nem árvores nem arbustos, nem carne nem peixe, nem pretas nem brancas. O pensador categórico não pode deixar de considerar o mundo espinhoso e rodopiante dos factos energéticos como uma profunda afronta ao seu sistema de classificação por cartões indexados. O pior de tudo são os factos que violam o "senso comum", esse triste pântano de preconceitos apodrecidos e inércia lamacenta. Toda a história da ciência é a odisseia de indexadores vogando perpetuamente entre Coisas Danadas, fazendo malabarismos desesperados com os cartões, até elas se encaixarem nas suas classificações, do mesmo modo como toda a história da política não passa do épico fútil duma longa série de tentativas para alinhar as Coisas Danadas em parada e obrigá-las a marchar (Robert Anton Wilson, O livro dos illuminati, p. 161).