12 fevereiro 2006

Contacto 1

— Estou?
— É o Sr. Luís Mourão?
— O próprio.
— O Sr. Luís Mourão que entrou para os casmurros?
— Sim, mas?..
— É o Groucho, senhor.
— Ah, Groucho!.. Prazer em ouvi-lo, mas...
— O seu nome vem na lista telefónica, senhor. Os Casmurros negaram-me o seu contacto, mas o seu nome vem na lista. Aliás, não há outro Luís Mourão, foi fácil.
— Estou a ver, Groucho. E assim de repente até fico perplexo por só haver um Luís Mourão em tanto telefone, não fazia ideia.
— È natural, não vamos à lista ver o nosso próprio número de telefone, mas realmente é como lhe digo, foi fácil, tão fácil que até acho que há no caso alguma coisa de justiça poética...
— Oh, Groucho, deixe lá as missivas do Sr. Silvestre, aquilo é um falar de muita mágoa vestido a rigor másculo. A verdade é que estão todos abalados, por si e pela menina Clara, foi um golpe muito forte, é preciso dar tempo...
— Não sei, senhor. Pela menina Clara ainda compreendo, era a única mulher do clube; mas por mim é mesmo raiva, a forma como sempre me trataram, Groucho isto, Groucho aquilo, e depois ficavam que tempos sem dar cavaco...
— Que palavra azarenta.
— Desculpe?!
— Nada, Groucho, nada. Continue.
— Enfim, uma desconsideração, foi o que foi. E depois aquelas pilhérias e anedotas!.. O senhor, ao que julgo saber, não é tanto dado a essas coisas, pois não?
— Essa é uma conversa muito longa, Groucho. Mas de facto a minha reserva de anedotas é muito diminuta, só sei mesmo uma anedota, estou vivo.
— Desculpe?!
— A anedota é só isso: Estou vivo. É só assim, Groucho: Estou vivo.
— Ah... É do tipo clown metafísico...
— Pois.