12 julho 2005

Reconstrução, 5

- Acabámos a aula sobre o Fundo para a Reconstrução do Iraque?
- Não seja sarcástico, Groucho. Isto é uma conversação, um diálogo, uma interlocução, um colóquio, uma cavaqueira, enfim, um tête-à-tête.
- Seja lá o que for, a pilhagem e a guerra andam sempre de mãos dadas, meu caro. Não perca tempo com relatórios.
- Só mais meia dúzia de frases, Groucho. Prometo não me exceder. No Banco Central Iraquiano, desapareceram 11 dos 26 milhões de dólares de valores sequestrados pela Autoridade Provisória da Coligação. Na lista de pagamentos estão incluídas centenas de empregados fantasma e milhões de dólares foram pagos por trabalho fantasma, por exemplo, 3 379 505 dólares foram pagos a “a trabalho efectuado por pessoal que não estava no local” numa única reparação de um oleoduto. A dada altura foram encontrados 6,5 milhões de dólares no Líbano, a bordo de um avião ao serviço do Ministro do Interior nomeado pela administração americana. Além disso, as exportações de petróleo não estavam a ser contabilizadas. Oficialmente, durante o primeiro ano de ocupação as exportações totalizaram 10 biliões de dólares. Outras organizações, como a Christian Aid, estimam que terão sido exportados até cerca de 4 biliões de dólares adicionais não registados. Como vê, há muito por onde fazer analogias com o seu manuscrito.
- Mas a pilhagem literária é outra coisa. É coisa de estilistas. Não está ao alcance de qualquer administrador delegado.
- A situação não melhorou com a nova administração iraquiana. Actualmente, é a Comissão Suprema de Auditoria que superintende na fiscalização da aplicação dos fundos. Foi criada também uma Comissão Iraquiana de Integridade Pública. Das mais de 3400 queixas recebidas, apenas cerca de 2% foram indicadas para procedimento judicial. Vários altos funcionários responsáveis pela investigação de casos de corrupção foram mortos, incluindo Ehsan Karim, o chefe da Comissão Suprema de Auditoria, morto por uma bomba a 1 de Julho de 2004, apenas dois dias depois de Paul Bremer deixar o Iraque.
- Lá está você a perorar. Já chega, já chega. Senão, quem desaparece sou eu.