11 agosto 2005

Judd Street, 1

o trânsito corre em dois sentidos em toda a extensão da rua, a partir do cruzamento com Euston Road. percorrida a partir desse ponto, cruza-se primeiro com Bidborough Street e Hastings Street. depois há ainda mais quatro ruas que entroncam nela. por esta ordem: Cromer Street, à esquerda, Leigh Street, à direita, Regent Place, à esquerda, e Tavistock Place, à direita. percorridos aqueles cerca de duzentos e cinquenta metros, Judd Street desemboca em Hunter Street. para o ouvido humano, entre as nove e as dez da manhã, o tráfego sonoro é quase inteiramente dominado pelos sons dos motores dos veículos. motociclos, carrinhas, carros, camiões. deste ponto de audição da rua, distingue-se bem o ruído dos motores a engatar as mudanças, geralmente de primeira para segunda ou de segunda para terceira. às vezes, há carrinhas ou camiões que param para fazer entregas, sem desligar o motor. outras vezes, abrandam e chiam, à espera que abram os sinais no cruzamento com Tavistock Place. escutando bem, percebe-se até a diferença nos sons gerados pelo contacto dos pneus com o asfalto e o atrito dos veículos com o ar. de vez em quando, uma buzinadela, um alarme que dispara, uma sirene de um carro da polícia ou de uma ambulância. entrecortando todos estes sons, ouvem-se ainda o martelar das obras num prédio de uma rua vizinha e, mais ao longe, a trepidação dos compressores e escavadoras que esventram a estrada. quando o vento sopra mais forte, restolham as folhas nas árvores mais próximas. uma notação capaz de registar a prosódia desta música concreta teria ainda de indicar variações aleatórias na sequência e na altura relativa de cada um destes sons, e na sua harmonização. teria de permitir transições graduais ou bruscas entre os altos decibéis da massa sonora compacta e o mezzo forte ou pianissimo de um rumor quase silencioso, num compasso marcado ora pelo solo ritmado do martelo no metal ou na madeira, ora por uma porta de uma carrinha que bate ao fechar, ora por um vocativo que sobe no ar. teria de fazer variar a intensidade, o timbre e a altura dos sons ao longo dos minutos. ajustar as notas à humidade relativa do ar, à inclinação do pavimento, ao fluxo do trânsito, à natureza dos motores. e, ainda assim, seria na verdade impossível não fazer desta descrição uma partitura abstracta para outras ruas interpretarem.