08 março 2006

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Sempre li que, ao chegar-se cá, percorria-se um túnel cada vez mais iluminado e, quando enfim atingido o outro lado, um gozo inefável tomava conta de nós. Mas afinal não é nada disso. É assim como estar a assistir ao 10 de Junho pela TV: discursos, pianadas da Maria João Pires, discursos, poemas patrióticos ditos por actores do D. Maria II, medalhas, almoçaradas num grande pavilhão para uns centos de cidadãos – e todo o povo na praia…
Há coisas mais entusiasmantes, com franqueza. Até porque nem há ninguém a quem pedir que fique comigo esta noite. Ou melhor, haver há, mas é tudo gente entre o transparente e o translúcido. A Sharon Stone, aqui, bem podia descruzar as pernas que só suscitaria o bocejo geral. Porque vê-se tudo, através de tudo. Uma versão não-ideológica do Panopticum. O céu é o Panopticum e eu já li todos os livros...
Falta por aqui um pedacito de dialéctica - da negativa, de preferência. Falta a resistência dos materiais. Falta mundo. Falta-me o Desportivo de Chaves. Não é que não haja gente simpática. Mal cheguei, a Irmã Lúcia veio trazer-me um chá de limonete. Delicioso, muito simpática e sorridente, mas a conversa, santos deuses (bem que o posso dizer…)! A azinheira, a senhora tão linda pendurada em cima dela, os segredos, a bela vida no convento, as saudades da horta… Quase senti saudades daquela cáfila lá do clube. Como é possível?! Irra! Nunca se está bem, é o que é.

(Já agora, alguém aí de baixo me pode dizer como vai o jogo do Benfica? É que eu sou do Liverpool desde pequenino…)