19 fevereiro 2006

Ponto da situação

Casmurros,

Como já alguém insinuou que eu estaria in partibus para perpetrar as usurpações de que estamos todos a ser vítimas (e nem me refiro às insinuações malévolas sobre um affaire entre mim e a Sra. Antunes…), sinto-me na necessidade de manifestar a minha voz corpórea e fenomenal: eu, Gustavo Rubim, estou a topar-vos, cá do alto, e escusam de pensar que conseguirão escapar ao longo braço da minha ira vingadora! Ela abater-se-á, inexorável, sobre aqueles que confundem autoria com assinatura, assinatura com propriedade, traço com voz, enfim, a justiça com as maquinações do direito!
O Sr. Serra, admitindo que se trate deveras do Sr. Serra, enquadrou muito bem a questão e citou Kierkegaard. Por mim, aceitando o enquadramento, prefiro citar Nietzsche: «Quando não temos um bom pai é preciso inventar um». Alguém está interessado em transformar este clube, aliás decadente, num consultório de psicanálise. Não eu, devo dizer. E, se querem que vos diga, por mim sinto-me tão distante do projecto da invenção de um pai para isto, como de aceitar que passemos a chamar pai a algum de nós. É caso para dizer: vão chamar pai a outro! Até porque, em bom rigor, no princípio não está o pai nem o filho mas o suplemento. Que não é usurpação nem roubo, embora possa ser a assinatura enquanto efeito, diferição, errância de um nome sempre impróprio. Porque a questão é que não há roubo de nomes, apenas impropriedades em forma de nome. Toda esta questão está mal conceptualizada desde o início, e talvez ainda a possamos endireitar se a pensarmos em torno da noção nietzschiana da «invenção do pai», mas sem psicanálise pelo meio. Basta a corrosão da «verdade» assim implicada por arrasto da «invenção do nome».
Disse, e vou dormir.

Gustavo Rubim (que não aprecia brincadeiras com a sua assinatura)