08 fevereiro 2006

Em louvor de José Manuel Ribeiro

Eu podia dizer que ele é a pessoa que melhor escreve no jornalismo desportivo em Portugal. E, sendo cruel, podia sugerir que se comparassem as crónicas dele n’ O Jogo com as de Miguel Sousa Tavares n’ A Bola (como não quero ser mesquinho, esclareço que não estou a falar do eterno conflito de Sousa Tavares com a gramática).
Mas dizê-lo assim é curto. Porque José Manuel Ribeiro é provavelmente a pessoa que melhor escreve na imprensa portuguesa. Um colega casmurro a quem em tempos apresentei uma das suas crónicas, exclamou que o homem era «mal empregado» no baixo mundo do futebol. Mais uma manifestação dos infindáveis preconceitos dos pseudo-intelectuais…
Vi-o uma vez na TV, de que não é visita habitual (a TV prefere Rui Santos, o que faz sentido), e constatei duas coisas que me deixaram feliz:
1) É melhor a escrever do que a falar;
2) Não é bonito.
Para dons, já bastam a arte da escrita, a capacidade, como diria Gabriel Alves, de ler o jogo (a semiótica, hoje empoeirada no sótão das Humanidades, refugiou-se há tempos no universo dos comentadores de futebol), e ainda, perdoem-me o compadrio e amiguismo espiritual, o simpatizar muito ligeiramente com o uniforme azul e branco.
Para quem não acredite na pertinência destas palavras de elogio e louvor, transcrevo, com a devida vénia ao melhor jornal desportivo português, a crónica que José Manuel Ribeiro dedicou hoje ao FCPorto-Braga. Leiam, aprendam e invejem:

Um bom jogo

JOSÉ MANUEL RIBEIRO

Longe de mim intrometer-me nos "hobbies" das pessoas, sejam eles a necrofilia ou esse desporto da nova vaga que se chama moer o seixo ao Adriaanse - eu próprio já ocupei o tempo assim -, mas, infelizmente, a razão liga pouco aos direitos individuais e, se lhe fizerem caso, é rapariga para estragar o divertimento à metade do país que tem vindo a confundir as críticas honestas ao holandês com o achincalhamento fácil e preguiçoso.
Primeiro: o FC Porto-Braga de anteontem esconde esse detalhe irrelevante que foi o FC Porto-Braga de há um ano e que deve servir de barómetro ao desenvolvimento da equipa. Nessa altura, Jesualdo Ferreira envergonhou um onze que estaria, na escala evolucionária, abaixo do equivalente ao australopitecus. Na melhor da hipóteses, o FC Porto de então seria um chimpanzé táctico, jogando contra um Braga de engenheiros, coerentes, ensinados e demasiado "sapiens sapiens" para aquele pobre macaquito sem rabo. No jogo de anteontem, não houve macacos e o FC Porto foi a melhor das duas equipas evoluídas que se bateram no campo. Houve controlo, futebol com intenção, passes para os pontas-de-lança (enfim), movimentos defensivos a roçar o impressionante - e tudo contra, provavelmente, o adversário mais complexo da Liga, agora deixado para trás pelo FC Porto, ao contrário do Benfica e do Sporting, que hão-de ter de se preocupar com Jesualdo um dia destes. Porquê negar que o sistema de três defesas, questionado por todos nós e rotulado de tolice, passou num teste convincente?
Segundo: a substituição. O Braga passou a jogar com dois pontas-de-lança, ambos altos e bons de cabeça. Adriaanse fez, obviamente, mal em responder com um central alto e bom de cabeça (Bruno Alves). O erro agrava-se quando reparamos na alternativa mais popular: fazer entrar um lateral-esquerdo (Cech), desviando para o meio um central baixo e mediano no jogo de cabeça (Pedro Emanuel). Não sei se foi assim ou com molho picante; se Adriaanse fez mal ou bem: sei que, quando se critica, é desaconselhável ver as coisas por um lado só. A menos que se pretenda ser deliberadamente injusto.

Pepe
O depois do elo perdido?

Por muito bem impressionado que tenha ficado com a eficiência do sistema de Adriaanse, o principal motivo de contestação mantém-se dentro do prazo, se é que não ganha ainda mais sentido depois do jogo que Pepe fez: quem o substituirá quando ele faltar?