14 fevereiro 2006

«Dicionário de Soundbytes», por Groucho

















Aos improváveis leitores deste «Dicionário de Soundbytes»

O Dr. Samuel Johnson, reza a história, jornadeou de 1747, ano em que lançou a «subscrição pública» para a sua obra, a 1755, ano em que conseguiu desempenhar-se da tarefa ciclópica do seu Dicionário. E era o Dr. Johnson, homem de letras cujo robusto físico mimava a robustez do intelecto! Pobre de mim, mordomo sem locus nem físico para tais empresas, que me abalancei, em momento em que me encontrava mais pachorrento, à tarefa aparentemente despretensiosa de um Dicionário de Soundbytes
A verdade é que foram já vários os momentos em que o carácter inóspito da tarefa me levou a desejar suspendê-la e a dedicar antes o tempo que nela inutilmente queimo à frequência dos bons autores: Camilo, Cervantes, Machado de Assis, Quevedo, o Padre Vieira, Flaubert, o Sr. Baptista. Mas a coisa deu em encavalitar-se-me na consciência como um macaco guinchante sempre com fome – e lá tenho eu de regressar à tarefa de alimentar, à força de entradas de dicionário, a fome atávica dessa minha ruidosa alma de dicionarista.
Vejo-me contudo forçado a interromper o meu penoso labor para vos interpelar, leitoras e leitores deste Dicionário. Porque se me não vai faltando a energia para enfrentar as duras penas auto-infligidas de um Dicionário de Soundbytes – e não só as intelectuais como também, e em especial, as morais, tão implicadas num projecto destinado a ser muito erroneamente tomado por um novo massacre dos inocentes (como se, aliás, neste âmbito, os houvera…) -, nem sempre a fonte da inspiração mana com o caudal necessário a quem se confia à penitência de percorrer todo o alfabeto de uma cultura.
Não se trata pois de interromper ou desistir desta estrada – tanto mais que, lá ao fundo, as entradas «Pacheco Pereira», «Paulo Portas», «Vasco Pulido Valente», entre outras, acenam com a fatalidade de um imperativo ético. Trata-se, sim, de enfim vos implicar, leitoras e leitores, na produção deste Dicionário, de modo a que a escassa inventiva do seu compilador seja suplementada pela imaginação criadora dos nautas que atravessam incansavelmente a blogosfera, quais abelhas em busca do pólen de que se fabrica o esquisito mel que se deposita nos favos-blogues desta vasta colmeia: a escrita.
Ouvi, pois, caras e caros leitores, este meu apelo! Ajudai-me neste aperto de dicionarista sem fôlego! Acudi-me, pois receio bem que só assim o Dicionário de Soundbytes logrará ultrapassar a letra L em que se encontra de momento encalhado.
«E como?», perguntareis vós, com justificada e ansiosa perplexidade. É simples, caríssimas e caríssimos leitores: enviando-me sugestões de entradas para a obra. De preferência a partir da Letra L, mas não exclusivamente. Pois – e esse é um dos preços a pagar pelo empirismo de um autor cujas muitas ocupações obrigam a trabalhar contra o método – à publicação sequenciada do Dicionário seguir-se-á uma «Adenda» com um certo número de entradas que só por lapso ficaram por incluir na sequência alfabética já explorada. Processo muito de lamentar, convenhamos, mas incontornável, dadas as lacunas já detectadas. Logo, se acaso achar que na letra A, D, F, etc., ficaram entradas fundamentais por explorar, não se iniba: indique-as ao dicionarista, que ele logo verá se consegue resolver os problemas que a sua diligência de leitor/a assim lhe propõe.
Mais ainda: caso o desejem, as e os leitores poderão enviar sugestões não apenas de entradas mas também relativas ao conteúdo de cada uma delas. Naturalmente, e como compreenderão, o compilador do dicionário reserva-se o direito de discriminar, de entre as propostas que lhe chegarem, as que considerar mais pertinentes tendo em mente o perfil da obra (e o propósito, verdadeira condição sine qua non, de não abusar da liberdade de expressão, ofendendo gratuitamente pessoas ou convicções, o que sempre esteve nos antípodas do intencionado pelo dicionarista – sim, que liberdade não é licenciosidade!).
Para tal, poderão usar o mail deste clube de hedonistas cansados: casmurro@sapo.pt
Fico pois à espera da vossa resposta ao meu apelo, desejando que ele vos mova a participarem nesta versão finalmente interactiva de um Dicionário que, sendo de Soundbytes, é, por definição, de Todo o Mundo e Ninguém.
Desde já, o meu reconhecido «Bem hajam!»

Groucho