A defecção e o novo membro (outra reunião de condomínio)
«Os casmurros reuniram-se* hoje para deliberar sobre dois assuntos: a proposta de expulsão de Clara Antunes, entretanto surpreendida num blogue rival e, ademais, culpada de incitamento à deserção, e a admissão de novo membro, desta vez sem concurso, por cooptação ou nomeação, a qual recolheu a aprovação unânime dos membros presentes da reunião, ou seja, todos menos a supermencionada Clara Antunes. Mais se informa que o novo membro é Luís Mourão, ensaísta, crítico literário e professor; aprovada a admissão, pode apresentar-se e começar logo que lhe seja conveniente: dele se esperam originais e inovadoras contribuições ou, como também se diz, prestações. A fim de evitar interpretações malévolas ou apenas equivocadas, a assembleia deliberou, por maioria, não tomar qualquer medida punitiva contra Clara Antunes: a modos que para não parecer que se expulsa uma mulher para fazer entrar outro homem, sei lá, ou que fomos buscar outro homem quando a gaja bazou para outro blogue, como se a homogeneidade masculina fosse, sei lá, uma issue importante da nossa agenda, ou como é que se diz. Em ponto suplementar da ordem de trabalhos foi rejeitada a proposta infame de contratar Inês Pedrosa para o cargo de porta-voz do Casmurro. O administrador fez notar que tal cargo não existe. E chegados aqui, acabou a reunião, e eu, que fui encarregado da acta, redigi-a e postei-a.»
*Reunião é metáfora; os membros do Casmurro, na maior parte, nunca falam uns com os outros; aliás, não se encontram. E alguns nem nunca se viram. O desejo ardente de comunidade, mais forte do que bom número de outras coisas (como sentimentos ou valores), é que nos faz inventar reuniões e clubes e sabe Deus que mais. Ah inventar... Ah, o anelo** pela comunidade… ah, a amargura da desunião, da defecção, da traição.
** Também se diz ‘anélito’, acreditam?!
*Reunião é metáfora; os membros do Casmurro, na maior parte, nunca falam uns com os outros; aliás, não se encontram. E alguns nem nunca se viram. O desejo ardente de comunidade, mais forte do que bom número de outras coisas (como sentimentos ou valores), é que nos faz inventar reuniões e clubes e sabe Deus que mais. Ah inventar... Ah, o anelo** pela comunidade… ah, a amargura da desunião, da defecção, da traição.
** Também se diz ‘anélito’, acreditam?!
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