Das dificuldades do diálogo interclassista (III)
Caro Sr. Silvestre,
Fiquei muito curioso em relação ao novo membro. Tinham-me chegado uns rumores, mas não mais do que isso (até porque comigo nunca ninguém falava francamente, dando-me a entender, por esses comportamentos, o meu estatuto de subalterno). Ouvi falar da hipótese de ser mais uma senhora, para dar outro sinal de abertura em questões de género. E chegaram-me nomes… Uma Sra. Pedrosa. Uma Sra. Mónica. Uma Sra. Roseta. Embora, ao que parece, a inclinação dominante (de entre os poucos que se inclinavam para uma senhora) fosse para uma Sra. Quevedo, pirotécnica de profissão. Mas, segundo sei, ela escreve aos sábados num certo jornal e isso - escrever nesse jornal - é critério absoluto de exclusão. Lembro-me de que, em matéria de jornais, os senhores decidiram, numa agitada reunião de condomínio, que só aceitavam novos membros que eventualmente colaborassem, ou tivessem colaborado, no JL ou nos 3 desportivos.
Será a saudade, essa erva daninha que daí trouxe e me medra no coração, será outra coisa qualquer, a verdade é que estou com grande curiosidade em conhecer o novo membro do clube. Não me quer satisfazer esta ânsia e preparar-me um encontro com ele, extra-muros casmurros? Eu sei bem que por baixo dessa aparência rugosa mora um coração bondoso e generoso, que não deixará de ter em conta o meu amoroso empenho no futuro do meu ex-clube.
Viril e curiosamente,
Groucho
Groucho, mordomo bisbilhoteiro,
O tanas! O tanas! Foi-se embora, fugiu, abandonou-nos, lançou-nos a CGTP à perna, levou-nos a Sra. Clara - danou-se, como dizem os nossos irmãos brasileiros!
Há-de conhecer o novo membro do clube quando ele se disponibilizar a tal. E, por nossa vontade e sugestão, isso não ocorrerá Nunca!
Em relação ao anterior mail, mantém-se a nossa exigência de esclarecimentos quanto à situação, física, psíquica e moral, da Sra. Clara. Por mim, continuo sem conseguir acreditar que ela se tenha retirado de sua livre e espontânea vontade. Por isso mesmo, votei contra a expulsão irrevogável dela do clube e instei os meus colegas, no que fui prontamente acatado (a rapariga tocou-nos bem fundo), a que não tomássemos medidas punitivas contra a deserção – que para mim é rapto, e nada mais! Se os seus esclarecimentos tardarem, recorreremos às autoridades.
Adeus, seu patife, onde quer que esteja.
Silvestre
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