19 fevereiro 2006

Com franqueza!

A Abel Barros Baptista e aos demais casmurros,

Não há exemplo que nunca empalideça, e não há intelecto que nunca fraqueje! Que decepção, esta última contribuição do Sr. Baptista para o debate! No fundo, o que o dito Sr. veio fazer foi ceder, em toda a linha, àqueles que estão sempre a acusar-nos de nos perdermos em digressões sem fim, de não atacarmos directamente os assuntos e de – pecado dos pecados! – incorrermos em «masturbação intelectual»! Porque no fundo foi disso que o Sr. Baptista nos acusou. Por mim, confesso que nunca percebi a acusação nefanda da «masturbação intelectual». Por duas razões. Porque a acusação pressupõe que a masturbação é criatura esquálida e desonesta – quando na verdade é, como todos sabemos, uma fonte de esquisitos prazeres. E porque transpô-la para o domínio intelectual, sobre ser metáfora arrojada, equivale a alçar a vida intelectual a alturas que ela, sejamos justos, raramente consegue atingir. Quantos livros, quantas ideias, quantos pensamentos nos conseguem proporcionar a gratificação da masturbação? Sejamos justos: muito poucos. Contam-se pelos dedos de uma mão, se é que posso usar esta imagem, aliás muito apropriada à questão.
Era só isto, caro Sr. Baptista.
Cordialmente,

Clara Antunes