04 fevereiro 2006

Ao vivo

— Mas onde anda o senhor? Já me perguntaram por si várias vezes…
— Fui para a praia, Groucho, estava sol, agradável, fui ficando… Mas qual é o caso? Inundação, curto-circuito?
— Que nada! vai aqui uma trepidação ideológica que nem se imagina… Há muito tempo que a blogosfera não andava tão agitada.
— A blogosfera?!
— Desculpe, exorbitei. O Sr. Rubim e o Sr. Silvestre têm andado muito ocupados, com grandes e inflamados discursos…
— Já lhe contei o segredo da vida do Sr. Silvestre?
— Não, nem quero que conte. Ao menos leu os jornais?
— Oh sim, li… quer dizer, não, se se refere a hoje, não li nada. Ontem, ontem é que li o editorial do director do Público
— Ah, então sabe o que se passa?
— Sei?! não sei se sei… fiquei encalhado num parágrafo. Até o copiei, a ver se com a minha letra ficava mais claro. Ora ouça: “será que, ao permitir a existência da indústria pornográfica, a lei americana torna imediatamente legítimo e correcto, por exemplo, que um diário como o The New York Times editasse na sua primeira página uma cena de sexo ao vivo? Legal, era. Nenhum juiz mandaria apreender aquela edição do jornal. Mas tal decisão editorial feriria uma outra regra não escrita que deve ser seguida pela imprensa responsável: a do bom senso.” Que me diz?
— Isso foi muito discutido aqui ontem, essa estultícia do bom senso.
— Pois, o bom senso ferido… Mas, Groucho, diga-me, nada mais o choca… nada? nem aquilo da cena de sexo ao vivo?
— Bom, imagino que se fosse o Bush com a Sharon Stone teria interesse público…
— Mas seria ao vivo, Groucho, ao vivo? Num jornal? Impresso num jornal? Que delírio é o deste director que imagina poder dar vida ao sexo, logo ao sexo, na primeira página de jornal? Que nova perversão é esta? Onde é que ele pensa que está? na televisão?
— Tem razão. Isso nem o autoriza lá muito a falar de bom senso.
— Ora aí tem. Volto para a praia.