Uma bela manhã de (pouca) conversa

— Dois séculos e meio da melhor música, não é, Groucho?
— É o que toda a gente diz.
— Mas o Groucho não concorda?
— Eu sou um pouco duro de ouvido…
— O Groucho? Duro de ouvido?!
— Tenho dificuldade em distinguir a melhor música da menos melhor.
— Está a armar-se em original, é?
— Não, mas escapa-me este consenso mozartiano.
— Escapa-lhe? Escapa-lhe como?
— Um compositor erudito a ganhar tantos adeptos… Estranho, percebe?
— Estou a ver. Também é desses que confundem popularidade com populismo. Descanse, que em Portugal está bem acompanhado.
— Engana-se, eu não cometo dislates conceptuais dessa magnitude.
— Não? Mas olhe que a sua conversa parece-se muito com a daqueles que desconfiam quando se lhes diz que Beckett é um dramaturgo para esgotar lotações.
— Ora, francamente… Beckett…
— De pancada à porta. Mas esqueça. Hoje não é dia para falarmos das agruras do teatro português. Hoje é dia de festa. (Dirige-se à aparelhagem.)
— Ao menos, não ponha muito alto. Por favor.
— Não me chateie, Groucho! (Começa a ouvir-se A FLAUTA MÁGICA. Bem alto. Altíssimo.)
<< Home