Sarabanda, 1

O último filme de Bergman é uma obra-prima absoluta. Até na minha televisão (que foi onde o vi) se consegue perceber isso. Está no mesmo plano dos grandes filmes do realizador sueco — Fanny & Alexander, Morangos Silvestres ou Sonata de Outono — com a diferença de que é o filme de um velho, de certeza um dos maiores filmes de um velho realizador na história do cinema. Agora, não é tão certo que seja um filme bergmaniano típico. E uma das razões para essa estranheza está à vista, pelo menos uma: é que a principal inspiração de Saraband não é cinematográfica, mas teatral e, concretamente, ibseniana. Se a Suécia ainda estiver, nem que seja inconscientemente, envolvida na velha polémica de Strindberg contra Ibsen, então Saraband não está feito para agradar aos suecos, pelo contrário. Mas também se pode formular a coisa doutra maneira: se Bergman sempre andou dividido entre Strindberg e Ibsen, então Saraband é o desatar desse nó pela declaração da escolha final. E a escolha é Ibsen.
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