14 janeiro 2006

Eu até vou mais longe

O Eduardo Pitta e o Francisco José Viegas não só concordaram como tiraram a conclusão correcta: que falta cá faz um Ministério da Cultura? Claro, tem de ser substituído esse exagero por uma coisa mais modesta ou, como o Francisco diz, o assunto resolve-se por cadeiras. Numa época de recessão psicanalítica, fica mal pôr na boca dos outros intenções tácitas, mas creio que não abuso se disser que ambos têm em mente o problema dos dinheiros e, com os dinheiros, das clientelas parasitárias do aparelho de Estado. Que a querela contra a ministra (hoje, sábado, numa aparência enganadora de estar jornalisticamente morta), que a querela, dizia, traz essa água no bico é uma evidência. E por isso é que eu até vou mais longe: acabando-se com o Ministério, como se deve acabar, ou mesmo antes disso, extingam-se todas as formas de subsídio estatal, sobretudo na área das artes de palco, onde as relações estão manifestamente inquinadíssimas. Dinheiro do Orçamento de Estado? Só para os Teatros Nacionais (e já gastam que chegue). Isto costuma levantar objecções teóricas, do género das que A.M. Seabra tanto se delicia a elaborar nas páginas do Público, mas meter aqui a teoria serve apenas para proteger interesses e manobras pouco confessáveis: eliminar os subsídios é hoje, obviamente, uma medida profiláctica de saneamento básico mais ou menos equivalente à de instalar canalização de esgotos num bairro onde só haja fossas. Pugnemos pela higiene e tiremos a todos os ministros o fundamento, que sem dúvida ainda têm, para usar o argumento dos poderes instalados neste reino tão pouco inocente das coisas «da cultura». Disse, está dito.