19 janeiro 2006

Escutas telefónicas, 1

— Acho que deu ao assunto uma importância que ele não tem, só isso.
— Há quem tenha outra opinião. A começar por mim, evidentemente.
— Além do mais, está a sugerir soluções sem pensar nas consequências. E se houver artistas que ficam sem trabalho, salas que fecham as portas, projectos que têm de ser abandonados?
— Ora, disso já há para aí com fartura. E assim, ao menos, ficavam todos em pé de igualdade. Da maneira como as coisas estão, ficamos todos é de pé atrás…
— Mas está a sugerir que há motivo para suspeitas sem dizer nada de concreto!
— Nem preciso de dizer. Está à vista de todos.
— Fica a impressão de que está a defender a ministra, que ainda por cima é sua colega…
— Isso é má vontade. Há imensos políticos que são meus colegas e Deus me livre de os defender! Pelo contrário, acho que há em Portugal uma tradição desgraçada de professores na política. A tendência é para serem parte do problema, não da solução.
— Ponha-se para aí a dizer essas coisas e depois queixe-se de que arranjou sarilhos.
— Oh, Clara, até parece que temos os telefones do nosso clube sob escuta! Com franqueza… [Gravação interrompida.]