02 janeiro 2006

Dossiê «A morte do autor», 3

Do texto da conferência pronunciada na Sociedade dos Peritos em Matéria de Homicídios, em Do Assassínio como uma das Belas Artes (1827), de Thomas de Quincey:

«Desculpem-me o riso, meus senhores, mas é que não me posso conter ao pensar neste caso ― havendo nele duas coisas que me parecem bastante cómicas. Uma, o terror que Descartes deve ter sentido ao ouvir uma peça em que se representavam a sua própria morte, funeral, sucessão e administração de bens. Mas há outra coisa que me parece ainda mais engraçada neste caso: se esses cães frísios tivessem mesmo agido, não teríamos hoje a filosofia cartesiana; e que faríamos nós sem ela, tendo em conta o mundo de livros que produziu? Qualquer respeitável cangalheiro conhece a resposta certa.»

(Tradução de João da Fonseca Amaral.)