06 novembro 2005

Olha, outro!

― O Groucho reparou nisto? Oiça: “Os intelectuais foram postos ao serviço de um processo de idealização política do mundo. Os intelectuais ao serviço de utopias. Quando estas faliram, os intelectuais voltaram para casa. Onde estão melhor.
― Não, não reparei. Onde é que o senhor lê essas coisas?
― Esta li aqui.
― Eu nunca vou aí, o senhor já sabe.
― Nunca vai, acaba por perder estas pérolas. Já viu bem, um liberal, um liberal que escreve, a preferir que os intelectuais fiquem em casa?
― Qual é o problema? Infere-se que ele, quando escreve, não usa o intelecto (e o senhor concordará que se trata hoje em dia de uma opção comum) ou, então, que gosta mais de escrever em casa, o que acho naturalíssimo, até por razões de conforto.
― Lá está o Groucho a desconversar.
― Eu?
― Não se faça de sonso. A tese daquele senhor é que os intelectuais foram “postos ao serviço” pelo comunismo, porque antes do comunismo os intelectuais eram todos de direita e a direita era toda intelectual, o que, segundo a explicação dele, se vê perfeitamente no caso dos românticos alemães. Veja só a demagogia!
― E não terá alguma razão?
― Ó Groucho, com franqueza… Os românticos não tinham utopias? O comunismo foi a única “idealização política do mundo”? Nunca houve utopias de direita? Não houve até intelectuais fascistas? Todos os intelectuais estiveram “ao serviço de utopias”? O contrário da utopia é voltar para casa?!
― O senhor faz tantas perguntas que não me dá tempo de responder a nenhuma.
― E o que é que o Groucho me respondia se tivesse tempo para isso?
― Respondia-lhe que o senhor perde tempo de mais a ler essa coisa dos blogues. O Sr. Baptista passou aqui ontem e deixou este livro para si. Veja lá se arranja tempo para lê-lo, em vez de estar aí especado em frente ao ecrã…
Nous n’avons jamais été modernes…? Antropologia simétrica ? Olha, outro que não fica em casa…
― Perdão?
― Então o Groucho não sabe que os antropólogos fazem sempre trabalho de campo?