Mais uma prova
― O que se passa?
― Tenho mais uma prova.
― Da pujança da crítica?
― Sim.
― E qual é?
― Na verdade é mais que uma.
― Mais que uma? Quais, então?
― Epítetos.
― Epítetos?
― Sim. Uma série deles.
― Aplicados à crítica?
― Não, aos críticos.
― Que epítetos?
― Vários. Por exemplo, “abnegados cavaleiros andantes”. No plural, note.
― Hmmmmm.
― E também “consciências mandatárias da crítica”.
― Fraquito, não acha?
― Há melhor.
― Pelo mesmo autor?
― Sim. E no mesmo texto.
― Diga.
― “Incontinentes da opinião”.
― Sugere decrepitude, mas é pouco exacto.
― Sim, aplica-se melhor aos feitores de opinião pública.
― Há mais?
― Mais três.
― Chute.
― O autor diz que “os críticos são rémuras”.
― Rémoras? Peixes-piolho?
― Creio que sim, mas ele escreveu “rémuras”, com “u”.
― Mordido pela ortografia, coitado. Mais?
― Também os apoda de “parasitas decompositores”.
― Parasitas de compositores?! Então mas está a falar de crítica literária ou de crítica musical?
― Literária. Escreveu “decompositores”, tudo junto, creio que no sentido de “agentes de decomposição”.
― Não sou filólogo, mas existe abonação para tal morfologia?
― Sim, existe. Usa-se em biologia.
― Nesse caso, bate certo com os parasitas. Não parece é muito consistente com as rémoras, que habitualmente não contribuem para a decomposição dos tubarões.
― O problema está nos escaravelhos.
― Escaravelhos?!
― Sim, é o último epíteto que aplica aos críticos e aquele de que eu gosto mais: “escaravelhos das letras”.
― Oh!...
― Também gostou, não foi?
― Pode dizê-lo! Difícil explicar porquê, mas… lembra-me Edgar Alan Poe e…
― Sim, é uma metáfora brilhante, literária se não for mesmo poética, um achado que dignifica a crítica e…
― …e lhe atesta a pujança, certo?
― Certíssimo! Só é pena a figura estar incompleta.
― Como assim?
― Creio que ele estava a pensar no contexto nacional.
― E então?
― Deveria ter acrescentado que são escaravelhos do deserto. Com uma arte admirável para procurar alimento onde ele chega a rarear, às vezes, anos a fio.
― Parasitas sem hospedeiro?
― Não, não! Os escaravelhos não são parasitas, Groucho!
― Desisto.
― Tenho mais uma prova.
― Da pujança da crítica?
― Sim.
― E qual é?
― Na verdade é mais que uma.
― Mais que uma? Quais, então?
― Epítetos.
― Epítetos?
― Sim. Uma série deles.
― Aplicados à crítica?
― Não, aos críticos.
― Que epítetos?
― Vários. Por exemplo, “abnegados cavaleiros andantes”. No plural, note.
― Hmmmmm.
― E também “consciências mandatárias da crítica”.
― Fraquito, não acha?
― Há melhor.
― Pelo mesmo autor?
― Sim. E no mesmo texto.
― Diga.
― “Incontinentes da opinião”.
― Sugere decrepitude, mas é pouco exacto.
― Sim, aplica-se melhor aos feitores de opinião pública.
― Há mais?
― Mais três.
― Chute.
― O autor diz que “os críticos são rémuras”.
― Rémoras? Peixes-piolho?
― Creio que sim, mas ele escreveu “rémuras”, com “u”.
― Mordido pela ortografia, coitado. Mais?
― Também os apoda de “parasitas decompositores”.
― Parasitas de compositores?! Então mas está a falar de crítica literária ou de crítica musical?
― Literária. Escreveu “decompositores”, tudo junto, creio que no sentido de “agentes de decomposição”.
― Não sou filólogo, mas existe abonação para tal morfologia?
― Sim, existe. Usa-se em biologia.
― Nesse caso, bate certo com os parasitas. Não parece é muito consistente com as rémoras, que habitualmente não contribuem para a decomposição dos tubarões.
― O problema está nos escaravelhos.
― Escaravelhos?!
― Sim, é o último epíteto que aplica aos críticos e aquele de que eu gosto mais: “escaravelhos das letras”.
― Oh!...
― Também gostou, não foi?
― Pode dizê-lo! Difícil explicar porquê, mas… lembra-me Edgar Alan Poe e…
― Sim, é uma metáfora brilhante, literária se não for mesmo poética, um achado que dignifica a crítica e…
― …e lhe atesta a pujança, certo?
― Certíssimo! Só é pena a figura estar incompleta.
― Como assim?
― Creio que ele estava a pensar no contexto nacional.
― E então?
― Deveria ter acrescentado que são escaravelhos do deserto. Com uma arte admirável para procurar alimento onde ele chega a rarear, às vezes, anos a fio.
― Parasitas sem hospedeiro?
― Não, não! Os escaravelhos não são parasitas, Groucho!
― Desisto.
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