Hermenêutica eleitoral (o argumento, finalmente!)
― Tem razão. Bem, Groucho, o argumento diz exoticamente o seguinte:
― Sim?
― Que a estratégia de Marques Mendes não triunfou em toda a linha, pois faltou-lhe capacidade para derrotar os candidatos ditos “independentes” que o próprio Marques Mendes tinha afastado das listas do PSD por estarem envolvidos em processos judiciais (o Isaltino e “o Major”, em concreto).
― Hmmm… E quem é o autor desse argumento?
― Não me lembro, nem interessa. Importa é que tem andado por aí a ser propalado. E sem que ninguém objecte o óbvio.
― O óbvio?
― Sim. O óbvio é que Marques Mendes teve o triunfo que teve precisamente por ter perdido as duas Câmaras ganhas pelos candidatos-arguidos.
― Calma. Está a sugerir que, perdendo essas duas autarquias, Marques Mendes obteve duas vitórias? Há aí uma lógica que não deixa de ser também o seu tanto exótica…
― Exótica, uma ova! Vamos por partes. Primeiro ponto: o PSD demarcou-se notoriamente destes candidatos suspeitos tanto aos olhos da Justiça como aos da opinião pública; segundo ponto: não só se demarcou deles, como os combateu frontalmente; terceiro: articulou esse combate com o lançamento da suspeita sobre o modo como o PS se apropria do aparelho de Estado, agora que tem maioria absoluta; quarto: desvalorizou a hipótese longamente antecipada de vir a perder as duas autarquias dos candidatos ex-PSD (em contrapartida, apostando tudo o que tinha em concelhos politicamente muito mais importantes); quinto…
― Ui, estou mesmo a ver! Vai dizer-me que as vitórias do major e do Isaltino foram, na verdade, derrrotas, não é?
― Quase. O quinto ponto é este: o PSD conseguiu transformar em derrotas essas vitórias, no sentido em que as deixou expostas enquanto vitórias locais, isoladas e sobrecarregadas pelas piores conotações. Isto, aliás, explica tanto a falta de entusiasmo do Isaltino como a histeria apopléctica que se apoderou do Major, na hora das respectivas declarações de “vitória”. A verdade é que, ganhando nos votos, ambos perderam em toda a linha e são hoje mais suspeitos do que nunca.
― Mas pode dizer-se o mesmo de Fátima Felgueiras, ou não?
― Sim?
― Que a estratégia de Marques Mendes não triunfou em toda a linha, pois faltou-lhe capacidade para derrotar os candidatos ditos “independentes” que o próprio Marques Mendes tinha afastado das listas do PSD por estarem envolvidos em processos judiciais (o Isaltino e “o Major”, em concreto).
― Hmmm… E quem é o autor desse argumento?
― Não me lembro, nem interessa. Importa é que tem andado por aí a ser propalado. E sem que ninguém objecte o óbvio.
― O óbvio?
― Sim. O óbvio é que Marques Mendes teve o triunfo que teve precisamente por ter perdido as duas Câmaras ganhas pelos candidatos-arguidos.
― Calma. Está a sugerir que, perdendo essas duas autarquias, Marques Mendes obteve duas vitórias? Há aí uma lógica que não deixa de ser também o seu tanto exótica…
― Exótica, uma ova! Vamos por partes. Primeiro ponto: o PSD demarcou-se notoriamente destes candidatos suspeitos tanto aos olhos da Justiça como aos da opinião pública; segundo ponto: não só se demarcou deles, como os combateu frontalmente; terceiro: articulou esse combate com o lançamento da suspeita sobre o modo como o PS se apropria do aparelho de Estado, agora que tem maioria absoluta; quarto: desvalorizou a hipótese longamente antecipada de vir a perder as duas autarquias dos candidatos ex-PSD (em contrapartida, apostando tudo o que tinha em concelhos politicamente muito mais importantes); quinto…
― Ui, estou mesmo a ver! Vai dizer-me que as vitórias do major e do Isaltino foram, na verdade, derrrotas, não é?
― Quase. O quinto ponto é este: o PSD conseguiu transformar em derrotas essas vitórias, no sentido em que as deixou expostas enquanto vitórias locais, isoladas e sobrecarregadas pelas piores conotações. Isto, aliás, explica tanto a falta de entusiasmo do Isaltino como a histeria apopléctica que se apoderou do Major, na hora das respectivas declarações de “vitória”. A verdade é que, ganhando nos votos, ambos perderam em toda a linha e são hoje mais suspeitos do que nunca.
― Mas pode dizer-se o mesmo de Fátima Felgueiras, ou não?
― Pode, claro, com a diferença de que o PS pouco fez para isso. E nada beneficiou, ou quase nada. Até aí o PSD soube explorar as ambiguidades do comportamento socialista.
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