08 setembro 2005

Feia Biologia


Passados anos, o Roque lembrou-se daquelas duas professoras do 9º Ano, a ‘stora de história e a ‘stora de biologia. Delas, a bióloga era a simpática, embora a sorrir fosse parca; a historiadora tinha sempre um sorriso a condizer com a boca, mas para os alunos era bem mais lixada a dar notas. Além do mais, vestia roupa sonsa, de quarentona que não era. Bem melhor, dizia o Roque, a ‘stora de biologia nos inícios dos anos 80, que se enfiava em meias de rede, rendilhado de favos de mel, para já nem falar da ocasional mini-saia. Para a professora de Biologia não havia pessoas feias. Ela não se cansava de repetir – fê-lo ao longo de todo o ano lectivo – que não havia nem mulheres nem homens feios. Só é feio – dizia nas aulas de biologia – quem tem algum defeito físico. Passados anos também, o Roque lembrou-se que a professora de história não tinha o antebraço esquerdo. Nem ele nem ninguém da turma tinha notado, naquele ano do ensino secundário, que era assim. Quer dizer, viam a ‘stora de história sem o antebraço esquerdo, mas não a notavam com um antebraço esquerdo em falta. O Roque, hoje – sem nunca ter sabido porquê – é historiador, e sempre que pode nega qualquer verdade à feia feia da biologia.