04 setembro 2005

«Dicionário de Soundbytes», por Groucho

Google: 1. Motor de busca tão potente que até é capaz de encontrar alguma informação na net sobre Armando Vara ou Celeste Cardona. 2. Existe também, mais recentemente, o neologismo «googlar». Exemplo: «Vê se googlas aí alguma coisa sobre a candidatura presidencial de Manuel Alegre».

Gosto: 1. Pode ser usado em expressões de cortesia («Muito gosto…») ou em enunciados sobre estética («O gosto de certo público pela obra tardia de Pomar…») ou gastronomia («Para o meu gosto, está salgadito…»). 2. Expressões como «Gostos não se discutem» são mais problemáticas, uma vez que abarcam vários dos sentidos antes discriminados e ainda outros, como o ser-se fã do Benfica ou de Fátima Felgueiras. 3. Kant queria convencer-nos de que, ainda que idiossincrático, permite produzir um «senso comum», mas a verdade é que entre os partidários do cozido à portuguesa e os do bacalhau com natas, entre os das madeixas louras ou do cabelo curto e ripado, entre Saramago e Lobo Antunes, ou entre Avelino Ferreira Torres e Isaltino Morais, não se vê como produzir um «senso comum», senão por brincadeira e fingimento. 4. Alguns, como Schiller, Oscar Wilde ou Fernando Pessoa, pretendem que a questão é mesmo essa, pois os consensos sobre questões de gosto só mesmo por brincadeira ou a fingir é que podem ser considerados consensos de facto (ao contrário dos da política, que são sólidos e duráveis, como se sabe). 5. Se o gosto não se discute, o bom gosto, como o mau gosto, educa-se. Nas educações mais requintadas, pode chegar-se ao Kitsch (v.) ou ao Camp (v.).

Gozo: 1. Usa-se em contexto jocoso («Só podes estar no gozo!») e sexual (dispensam-se exemplos). 2. Nos últimos anos, passou a ser também utilizado em contexto artístico, em substituição dos tradicionais «gosto» (v.) ou «prazer» («Foi um filme que me deu muito gozo fazer»). 3. Também se pode usar a propósito de safaris («Em gozo de férias no Quénia»).