07 setembro 2005

Contribuição positiva


— Bom dia, Groucho.
— … hummm… já lhe vejo o tom da galhofa…
— Qual quê! Não tente agora dispensar didascálias, já deixámos isso para o Sr. Portela. Quero dar-lhe uma contribuição… positiva.
(Riem-se ambos. Moderadamente.)
— Estou convencido de que a sua proposta foi recebida com, digamos, frieza, porque não tratou do aspecto decisivo: o nome.
— Que nome? Do clube? Eu disse expressamente Clube de Leitura Casmurro. Está aqui o link que não me deixa mentir.
— Não é isso, homem, refiro-me ao próprio nome da coisa, da entidade, disso que quer promover. Clube de leitura é vulgar, confunde-se, parece coisa de senhoras ociosas. Para tudo é preciso nome novo, palpitante, rutilante, principalmente quando a ideia não é nova. Ponha os olhos no nosso clarividente Instituto do Livro: quando quis promover coisas dessas para cativar leitores, chamou-lhes comunidades de leitores… Veja a graça, a subtileza, o refinamento. Não é um clube, não é uma corporação, não é uma agremiação, não é um ajuntamento, nem uma incorporação: é uma comunidade. Gente que partilha algo comum, que tem algo em comum, quero dizer, suponho que a leitura ou um livro. Muito sofisticado.
— Ah, estou a ver… mas abomino a palavra comunidade e…
— Também eu, Groucho, também eu. Mas há outras. Por exemplo, círculo: círculo de leitura.
— Nada sofisticado, desculpe, se é esse o seu critério. Persisto no clube, se não se importa.
— Ângulo de leitura?
— Ângulo?
— Sim, vêm pessoas de várias lados, de várias direcções, e encontram-se num ponto comum, numa esquina virtual, que forma um ângulo, ou aliás vários ângulos e…
(Riem-se ambos com gosto.)