«Que farei quando tudo arde?»
- Que me diz a este desastre nacional que são os incêndios, Groucho?
- Falecem-me as palavras, senhor. Sabe que o Sr. Oliveira passou a noite em claro, mais a mulher e familiares, a tentar evitar que a casa lhe ardesse? Às 4 da manhã, aterravam-lhe no jardim e no quintal pedaços de eucalipto a arder, com 30 e 40 cm! O tal «petróleo verde» de que se gabavam os ministros cavaquistas, se bem se lembra. Falei-lhe há pouco, para lhe exprimir a minha e nossa solidariedade e fiquei abalado com o que me contou da provação nocturna.
- De facto, não há palavras. Sabe o que lhe digo? É numa altura destas, quando a gente vê Coimbra cercada pelo fogo, casas queimadas, a belíssima mata de Vale de Canas, onde a minha filha tanto gostava de ir brincar, destruída em 80%, etc., que a gente se apercebe da merda de país em que nasceu.
- Receio não poder discordar, senhor.
- Tanta legislação bem pensada e aprovada, tantos planos de reflorestação, gestão da floresta e do mundo rural, etc., e nada. Ano após ano este desastre ambiental, económico, social – e político, obviamente – disfarçado de «calamidade» ou «fatalidade», quando na verdade do que se trata é de incompetência e incumprimento da lei. Quem tem razão é o Paulo Varela Gomes: isto são os incêndios do regime saído do 25 de Abril, um regime inepto e corrupto como poucos. Como ele dizia no artigo do Público, resta-nos desempenhar o melhor que pudermos a nossa profissão e pensar em emigrar.
- Talvez para Gondomar, senhor…
- Ou Marco de Canavezes. Ou Felgueiras...
- Dá vontade de citar Sá de Miranda, senhor: «Que farei quando tudo arde?»
- Talvez chamar o Major Valentim & sus muchachos… Para deitarem gasolina no fogo. Só assim, quer-me parecer.
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