14 agosto 2005

Noite de Agosto

― Oh Sr. Rubim, que surpresa! Então por aqui a estas horas da noite?
― É verdade, Groucho.
― Bons olhos o vejam.
― Obrigado, Groucho.
― Sabe, isto tem estado muito vazio… Apareceu por aí o Sr. Portela, há dias. De vez em quando dou com uns papeluchos na parede que não sei quem os cola…enfim, pouco movimento.
― Isso é uma queixa?
― Que ideia, não! De maneira nenhuma. Tenho aproveitado para descansar, até. Afinal estamos em Agosto, não é?...
― Agosto, sim, Agosto. É verdade: Agosto.
― O mês das férias. Até pensava que o senhor estivesse algures no estrangeiro, numa daquelas praias bonitas com palmeiras ou coqueiros, sei lá. Toda a gente diz que o Sr. Rubim, se lhe tiram o mar, fica logo taciturno e sorumbático.
― Também há mar em Portugal, ou não?
― Quer dizer que ficou por cá?
― Quero. Acha que fiz mal?
― Ora essa, claro que não. Mas (sem querer incomodá-lo) vejo-o um pouco abatido, ou será só impressão minha?
― Oh…
― Não quer falar, não insisto.
― Oh…
― A tristeza prefere o silêncio, compreendo-o perfeitamente. Eu retiro-me.
― Deixe-se ficar, Groucho. Sente-se aí.
― Sento-me?
― Sim, sente-se aí, nessa poltrona.
― Mas…esta é a poltrona onde costuma sentar-se o Sr. Baptista.
― Pois é, mas o Sr. Baptista não está cá e, mesmo que estivesse, com certeza não levaria a mal que o Groucho se sentasse nela. Vá lá, deixe-se de esquisitices!
― Se o senhor ordena, creio que… (senta-se)
― Ordeno, ordeno…
― Pronto, cá estou. Quer perguntar-me alguma coisa, presumo…
― E presume bem. O assunto é sério, tome bem atenção.
― Sério? Sério como?
― Seriíssimo! O mais sério de todos! Quero perguntar-lhe…aaaa…
― Sim…
― O Groucho percebe alguma coisa de mulheres?
(brevíssima pausa) Bem, percebo o suficiente para saber que o Sr. Rubim precisa de um gin-tónico. Dê-me licença, eu volto já!