Monólogo exterior (noite)
/…/ está decidido, ponho-me a andar amanhã, logo cedo, não deixo sequer um bilhete, vou… não posso continuar assim, como se fosse um americano between projects, vou… a primeira etapa: ir à Ota, olhar aquilo, e começar a escrever o guião do filme: como ficará quando o tal aeroporto estiver construído, filme de antecipação, cenário futurista, gente de todo o mundo, a misturar-se, a conviver, enormes aviões descendo constantemente, e no meio disso uma intriga política e de alta espionagem: alguém raptou Vasco Pulido Valente… não, não pode ser, convém um mais novo, e daí… o Pacheco Pereira, que pode ser primeiro-ministro ou assessor bibliográfico do primeiro-ministro, logo vejo: raptado por um comando que se fazia transportar no tgv entretanto construído… são tempos vincadamente europeus, hum, que entusiasmo! extremamente! os raptores exigem de resgate a edição princeps da Commedia de Dante… azáfama, ninguém tem, ninguém sabe quem tem… não, muito elitista, não serve, o aeroporto ficava simples cenário… melhor uma coisa de neo-realismo reciclado, consequências na vida das pessoas, na flora, nos bichinhos… fraco… mas se vou escrever o guião dum filme, tem que ser ali: para que raio há-de servir o aeroporto?! … ainda irei a tempo dos subsídios?… devo ir, estamos no Verão, está tudo de férias… mas, espera lá… como é que se vai para a Ota? /…/
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