15 agosto 2005

Monólogo exterior (manhã, feriado)


/…/ comprova-se, há actividade nocturna… mais papéis nas paredes, frases, citações facetas, desenhos, fotografias… mais frases… de dia para dia, o mistério adensa-se, como dizem os jornalistas, os da imprensa escrita, dos jornais, os outros não conhecem mistérios, mostram tudo ou tudo se lhes mostra, sei lá… mas o diabo dos papéis… deixo-os ficar, claro, que os colem à vontade, quando quiserem, como quiserem… mas quem os cola? e quando, afinal? o único que aqui apareceu foi o Rubim… muito estranho, estranhíssimo, quase inquietante, quase não: inquietante mesmo: a que propósito toda aquele conversa obnóxia sobre mulheres? ... toda noite, mais e mais, parecia apostado em não me deixar dormir… impressionante a resistência dele, em qualquer caso… não o sabia noctívago ou atreito a insónias… aliás não o sabia nada, quase nada, sujeito fechado está ali… mas que espertina: teria vindo para me distrair? para me desconcentrar? será que adivinharam que os vigio? que desconfio? que suspeito? diabo! podiam era ter engendrado qualquer coisa menos penosa, ainda não me recompus, uma noite em claro, uma noite em claro…
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