10 agosto 2005

Monólogo exterior (madrugada)

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aqui ninguém me topa, posso fiscalizar, ver quem entra e quem sai, o que fazem, até ouvir o que dizem… há pouca luz, pode ser que acendam… tenho que deslindar este mistério, nenhum movimento durante o dia, nem instruções nem pedidos, muito menos conversas, e depois aqueles papéis afixados nas paredes, agora com desenhos, gravuras… ilustrações… algumas curiosas, não tanto como a daquele homem com costeletas à volta, ou seria entrecosto? fábricas de corpos, essa muito mais que curiosa, bizarra… isto começa a parecer uma república de estudantes, deserta de dia, agitada à noite… ou quase, ou nem isso, porque a agitação aqui é subtil, silenciosa, dir-se-ia inexistente se eu não suspeitasse que anda por aí alguém a fazer qualquer coisa… como prisão, não está mal imaginado, denota inventiva: fico preso, podendo sair, mas não saio, curioso, ansioso, a desentranhar do silêncio e da inactividade a razão de ser de eu estar aqui, a verdadeira… podia ser algum mistério, pessoa ou pessoas movendo-se no escuro, o que acontece, pois o que cá não estava ontem aparece hoje… quem sabe é essa a minha actividade, a minha missão, a minha tarefa: descobrir o que se passa aqui quando aparentemente não se passa nada… sim, quem sabe, eis uma boa razão para ficar, ficar e descobrir…
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